Nº de inventário: 10.351;
Caixa: Comprimento: 18,6 cm;
Largura: 10,3 cm;
Altura: 3 cm
Na tradição do povo português, o ourives ambulante que circulava de aldeia em aldeia e que também se apresentava sempre nas feiras mais frequentadas, como até nas romarias, era uma figura muito conhecida e estimada. Calcorreava estradas e caminhos em busca de clientes, com o seu baú de lata pintado de verde, amarrado ao suporte traseiro da sua bicicleta de pedais.
Que beleza de coisas ele transportava: os primeiros brincos para meninas de tenra idade, as argolas que haviam de enfeitar orelhas de raparigas casadoiras, as alianças do matrimónio daqueles que podiam comprá-las, os fios e os cordões de preço que maridos retornados de além-mar ofereciam às esposas, os anéis que alguns compravam com o primeiro dinheiro recebido no seu primeiro emprego, enfim, maravilhas que faziam arregalar os olhos da gente simples dos nossos meios rurais. E tudo cosido com um fiozinho de linha preta a cartão forrado de veludo azul já desmaiado pelo tempo e pelo uso. Mas também, em hora de aflição, o ourives lá estava para o movimento inverso: a compra de ouro ou prata herdados de familiares, ou, com que mágoa, peças anteriormente compradas e que agora era mister vender para satisfação de compromissos inadiáveis.
Pelas aldeias da Beira circulavam sobretudo ourives oriundos de Febres, ali no concelho de Cantanhede. Conhecemos vários, todos da mesma família. Gente simpática, sempre capazes de esperar algum tempo pelo pagamento tantas vezes feito a prestações ou a receber em troca peças usadas, defeituosas ou amassadas. Encontrámo-los igualmente em festas e romarias, já com uma barraquinha mais recheada e aparatosa do que o tradicional baú em que os referidos cartões forrados a veludo se alinhavam, suspensos com alfinetes-de-ama, de um pano amplo e resistente.
A balança que constitui a peça deste mês pertenceu a um destes ourives e era peça indispensável, sobretudo na hora da compra do ouro velho. É simples, mas funcional. Ainda mantém os pesos necessários ao seu bom funcionamento e ao cálculo exato do metal a transacionar, desde os de 10 gramas, 5, 2 e 1 grama de latão, até ao de 10 miligramas, de alumínio – ao todo, nove.