Nº de inventário: 10.735;
Comprimento: 38,6 cm;
Diâmetro: 12,4
Para o povo português, no passado, um passado ainda não muito distante, sobretudo para as populações do nosso interior serrano, inóspito e agressivo, o caldo constituiu a grande, quando não a única, forma de cumprir as refeições do dia-a-dia.
A panela – ó que belas e saborosas as panelas de ferro de três pernas – posta ao lume logo pela manhã, ali se mantendo o dia inteiro, estava sempre pronta a responder, enquanto podia, às muitas solicitações dos membros da família, principalmente da canalha miúda que por ali passava em busca de com que compor estômagos famintos, cedo dilatados por quantidades suprindo qualidade.
Que bem casava o pãozinho, já na malga, com o caldo da panela de três pernas, feito de couves ou nabiças, de feijão miúdo ainda não seco, de abóbora, de cabeças de nabo ou de algumas plantinhas crescendo livremente por aí, muitas vezes aromatizado com outras também por aí crescendo.
Com o caldo truluru é que não. Com este caldo nada casava. Nem os espigos, nem os trêpelos, nem as batatas, nem as cebolas, nem os feijões, nem nada. Muito menos o pãozinho de Nosso Senhor. Com este triste caldo, o caldo dos mais pobres, dos verdadeiramente miseráveis, só casavam as cabaças. Ainda verdes, cortadas aos pedaços, com umas areias de sal, lá ferviam, ferviam até que os dentes lhes pudessem entrar e até que dessem a ideia de terem ajudado a engrossar aquela água chilra, uma triste augaritana. Era o caldo truluru que, como dizia o povo, ainda bem não está na boca, já está a sair do cu.
A peça que hoje divulgamos, com haste de ferro forjado e concha de cobre martelado manualmente, era a companheira fiel da panela de três pernas, sempre disponível para cumprir a sua superior missão de transformar malga vazia em malga cheia. A voltinha no extremo da haste dava para, na hora do descanso, a dependurar em prego colocado na cantareira, na parede da cozinha, no exterior da chaminé.