Chama-se necrópole ao lugar onde certos povos da antiguidade sepultavam os seus mortos. Variava de acordo com o local e o processo dos enterramentos, podendo ser subterrânea ou de superfície, cavada na terra ou escavada na rocha, com ou sem monumento de arquitetura.
Na freguesia de Silgueiros ainda hoje podemos encontrar algumas marcas desse tempo, um tempo ainda não rigorosamente definido pelos especialistas, como veremos mais adiante. Trata-se de sepulturas escavadas na rocha, não constituindo propriamente necrópoles, mas peças na maioria dos casos isoladas.
Os especialistas nesta área da História não estão completamente de acordo quanto à sua origem e, consequentemente, quanto à sua idade, uma vez que estas sepulturas foram sempre encontradas vazias, faltando, por isso, material que permitisse o seu estudo e a sua datação. Dizem alguns historiadores que as suas origens estão no período pré-histórico, outros no tempo dos lusitanos, outros no período romano-cristão e outros ainda nos tempos medievais. O Dr. José Coelho, ilustre historiador viseense, na sua obra Notas Arqueológicas[1] defende a sua convicção de que tais sepulturas não são pré-romanas nem romanas, mas sim medievais. Esta é também a opinião de V. Correia, citada pelo autor viseense, que as refere como posteriores ao século X, por junto de algumas delas aparecer uma cavidade não adequadamente explicada, mas que poderia ser o local onde se implantara uma estela funerária ornamental, o que ajudaria a confirmar esta opinião.
O povo conhece-as bem, sobre elas emite opiniões e protege-as com o carinho que se dedica às coisas que não se explicam, mas se respeitam. Chamava-lhes as campas dos moiros, já que os moiros têm as costas largas para justificar muito daquilo que o povo simples desconhece e tem raízes profundas no tempo; são as campas ou sepulturas dos moiros, os penedos da moira, as covas da moira, quase sempre aliados a lendas mais ou menos poéticas e imaginativas, onde as mouras encantadas e os tesouros se escondem à espera de quem os descubra e quebre o encantamento.
Registamos a lenda do penedo da moira, situado no limite de Passos, da freguesia de Silgueiros, onde alguém descobriu uma inscrição:
- Quem me virar de pernas para o ar, grande tesouro há de encontrar.
Decifrada a inscrição, logo se juntou gente em número e com força bastante para remover aquele peso descomunal, depois do que, com natural desapontamento, encontraram uma nova inscrição:
- Ainda bem que me viraram pois, deste lado, já estava muito magoado.
Na freguesia de Silgueiros estas sepulturas, antropomórficas, escavadas no duro granito beirão, têm resistido às intempéries e ao abandono daqueles que têm responsabilidades no domínio do património nacional. As oito que encontrámos encontram-se em bom estado de conservação, embora merecessem cuidados habituais de limpeza e conservação. É que o património, designadamente, o de propriedade colectiva merece e exige cuidados que permitam a sua fruição por todas as gerações que nos sucederem. Mas, atenção, porque limpeza realizada por quem não conhece os cuidados necessários, pode corresponder a destruição ou a prejuízos irreparáveis.
António Lopes Pires
[1] Coelho, José, Notas Arqueológicas, edição do autor, Viseu, 1949, pág. 56.