Religiosidade Popular
“— Um Padre Nosso e uma Ave Maria a S. Marçal, para que nos livre do fogo — dizia D. Doroteia, e seguia-se o Padre Nosso. — Outro a Santa Luzia milagrosa, para que nos dê vista e claridade na alma e no corpo; outro a S. Brás, para que nos proteja da garganta; outro a S. Vicente, por causa das bexigas, etc. Seguia-se um Padre Nosso por todos os que andam sobre as águas do mar; outro pelos pobres sem abrigo nem alimento; outro pelos órfãos; outro pelos doentes; um pelos vivos; outro pelos mortos; um pelos justos; outro pelas almas do purgatório, não hesitando até a sua caridade em transpor as portas do inferno e pedir também a remissão dos condenados. E ainda, depois desta minuciosa e longa enumeração, um último Padre Nosso fechava a primeira série compreendendo todos os não contemplados por esquecidos ou por não terem lugar na classificação.
Compunha a segunda série a menção especial de cada uma das pessoas falecidas das suas relações: parentes, amigos e conhecidos, por cujo eterno descanso entre os resplendores da luz perpétua oravam com verdadeira compunção.”
Júlio Dinis,
A Morgadinha dos Canaviais,
Ação passada em Grijó, Vila Nova de Gaia
Publicado em 1868