Nota Histórica
Um dos mais antigos povoados de que há memória na grande freguesia de Silgueiros, a maior do concelho de Viseu, situa-se em lugar onde a montanha se dobra e, partindo-se em duas, avança sobre a Nascente e o Poente, a perder de vista...
Pequena póvoa ou simples casal medievo, ali permaneceu, séculos e séculos, entregue ao seu isolamento e à tranquilidade dos tempos em que nada acontece, salvo a rotineira sucessão das estações e o rugir periódico das águas vindas de longe, escorridas das muitas encostas que no fundo do vale convergem e, tão depressa galgam terras e arrastam gados, como se passeiam tranquilas a deslado da fertilidade que ajudaram a criar.
A sua fundação perde-se no escuro da noite, mas a sua existência já é referida nas inquirições afonsinas anteriores a 1258, mandadas especialmente fazer às terras de Silgueiros, em consequência dos conflitos vividos pela posse de algumas delas, a indiciarem formas ilegais de apropriação. Assinale-se que em Silgueiros medieval possuíam terras ou privilégios sobre elas instituições como a Ordem do Hospital, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a Sé de Viseu e a igreja de Silgueiros, o Solar dos Loureiros, a Casa de Santar e o próprio Rei que aqui instituiu 4 cavalarias: duas em Passos, uma em Silvares e outra nas Lajes e onde possuía também alguns reguengos.
Naquelas inquirições se cita o seu nome: Póvoa de Jusã (Póvoa de Baixo, dada a existência de outra, em cima, no planalto), mais tarde Póvoa Dão. A sua população, ao tempo, era diminuta, como se deduz do próprio nome e admite-se. que as terras do seu termo já pertencessem à Casa do Loureiro ou a uma das cavalarias de Passos cujos limites se estendiam desde Pindelo a Moreira de Baixo, vizinha povoação no atual concelho de Nelas. Sabemos que a Póvoa Dão fez parte do património dos morgados do Loureiro. Em que época ficou na sua posse ou dos seus ascendentes, não o sabemos, porém.
Os Romanos passaram pela Póvoa Dão. Deixaram a sua marca na via que ainda hoje a atravessa e que, partindo de Viseu, passava por Oliveira de Barreiros e seguia a caminho de Tábua. Por sobre o Dão terão construído uma ponte que já não chegou até nós nem dela encontrámos notícia. Os moradores sempre tiveram muito apreço por esta rua, a única empedrada da aldeia onde não faziam estrumeiras, não só porque ali não era preciso combater a lama, mas também porque sendo uma artéria de grande circulação, designadamente em dias de festa, incluindo casamentos e batizados, era necessário que todos pudessem transitar sem dificuldades.
Deixaram por certo também outras marcas, designadamente, no que respeita à cultura da vinha. Com efeito, aquele povo difundiu no espaço do seu vasto império a produção do vinho. Espalhados pela freguesia de Silgueiros existem ainda hoje, em perfeito estado de conservação, pequenos lagares ou lagaretas que indiciam a sua utilização na época.
Apesar da proximidade do rio Dão e do grau de humidade consequente, foi significativa a produção de vinho nos terrenos mais elevados e melhor expostos da Póvoa Dão. O número de lagares encontrados nas lojas e adegas e as notícias recolhidas a respeito do número de balseiros, confirmam esta teoria.
Nota: Publicam-se antigas e recentes fotografias da Póvoa Dão, incluindo o velho pontão, hoje desaparecido.
António Lopes Pires
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