O dia de Páscoa, um dos mais importantes do Cristianismo, é uma festa móvel. Tem lugar no primeiro Domingo da primeira lua cheia após o equinócio da Primavera. Marcas do tempo, e dos condicionalismos em que se fez a implantação da fé cristã nos povos daquela época.
A Páscoa começa a preparar-se logo a seguir ao dia de Entrudo, na Quarta-Feira de Cinzas. É a Quaresma. Os quarenta dias de jejum de Jesus Cristo no deserto, marcam este tempo. A oração, a penitência, a mortificação, o jejum e a abstinência também.
Sete semanas de sacrifícios e rigores impostos pela Igreja, mas muito pela tradição. O povo designou essas semanas pelos nomes de algumas figuras bíblicas: Santa Ana, mãe de Nossa Senhora; Maria Madalena ou Maria Magdala; Rabeca, filha de Bathuel, esposa de Isac, filho de Abraão; Susana, mulher judia célebre pela sua beleza e castidade; Lázaro, ressuscitado por Cristo três dias após a sua morte; e, finalmente, as dos Ramos e da Páscoa, esta também chamada Semana Maior, Semana Santa ou Semana da Paixão. O povo, na sua simplicidade, referia-as apenas por: Ana, Magana, Rabeca, Susana, Lázaro, Ramos, na Páscoa estamos.
Na Semana Santa, cumpriam-se rigorosamente várias tradições: as igrejas cobriam as imagens de luto, as pessoas vestiam seus fatos negros, eram proibidas todas as manifestações de alegria, por se estar em tempo de recolhimento, por isso, de silêncio, de penitência.
Os cantares populares já haviam sido abandonados durante toda a Quaresma e substituídos pelos cânticos religiosos.
Na Quinta-Feira Santa não se comiam couves, por respeito a Nosso Senhor que, nesse dia se escondeu num couval.. No dia seguinte proibido comer carne, por ser o dia da morte do Senhor. Os sinos deixaram de se ouvir. Em sua substituição, apareciam as matracas a que o povo apelidava de matráculas, com o seu som lúgubre, percorrendo as ruas das localidades chamando para os actos litúrgicos.
A alegria voltava. Sete semanas volvidas. Voltava em dia de aleluia:
Aleluia, aleluia, aleluia,
Ressuscitou o nosso Deus,
Aleluia, aleluia, aleluia.
António Lopes Pires
Do livro: Zé Bisnau e Outras Histórias