Moeda superior: Nº de inventário: 6197;
Diâmetro: 1,4 cm;
Moeda lateral esquerda: N.º de inventário: 10 636;
Diâmetro: 1,7 cm;
Moeda lateral direita: N.º de inventário: 10 637;
Diâmetro: 1,6 cm
No mês passado divulgámos a moedinha de três vinténs que marcou uma época e uma tradição do povo português. Hoje voltamos ao assunto com mais três moedas que foram utilizadas com a mesma finalidade: amuleto capaz de favorecer a menina que o usou ao pescoço, durante uma vida, a defender a sua pureza, a sua virgindade.
São garantia da sua utilização com o fim indicado, os furinhos de preferência feitos no alto do eixo vertical da moeda por onde haviam de passar os fios que, à volta do pescoço, a suspendiam.
Sabemos como, no passado, a vida era difícil para o povo português. E comprar uma moeda de prata, de três vinténs não era para todos, mesmo que para oferecer a uma filha em circunstância tão particular.
Por outro lado, a superstição que levava ao cumprimento deste ritual chegou também aos mais ricos, burgueses e fidalgos. Se para alguns, como se disse, era difícil ou mesmo impossível comprar tal moeda, para uns poucos, a sua condição económica e social impunha outras responsabilidades e outros gastos, respeitando embora a condição de se utilizar sempre uma pequena moedinha.
Parece-nos ser o que se pode concluir das três peças que hoje apresentamos: uma de ouro, cunhada em 1733 no reinado de D. João V, um cruzado (400 réis, mas que entre nós circulou com o valor de 480); uma de prata, de dois vinténs (40 réis) também do tempo de D. João V, mas que circulou com o valor de meio tostão; e a terceira igualmente de prata, mas já do reinado de D. Luís, de meio tostão (50 réis) cunhada em 1880.
Todas elas ostentam os furinhos que lhes dão a garantia de terem servido de amuleto para ajuda à manutenção da pureza e da virgindade de quem as usou e nos levam a conclusões que nos parecem ajustadas:
A força e a crença na tradição eram tantas que influenciavam todas as famílias, oferecendo cada uma, à sua menina, o mais que podia, mesmo quando não podia chegar aos três vinténs ou quando essa moeda já não circulava.
Mantendo-se este costume, pelo menos, até princípios do século XX, podemos dizer que os três vinténs das ricas valiam mais do que os três vinténs das mais pobres. E que as mais pobres das pobres nem sequer ambicionavam, por falta de meios, a exibir os seus três vinténs aos amigos e à comunidade.