Nº de inventário: 2558;
comprimento: 48 cm;
largura: 19,5 cm
A matrácula – corruptela de matraca – é a forma como, por norma, a maioria das pessoas das nossas comunidades rurais chamava a um instrumento “musical” muito especial. Trata-se de um aparelho muito simples, constituído por uma tábua com uma asa, forte para poder resistir às pancadas de um aro de ferro, grosso e forte também, para resistir durante os anos e anos da sua vida.
A Semana Santa é, como sempre foi, o culminar de um período longo de sacrifícios e tristezas, terminando nos seus últimos dias com um clima pesado de grande luto ao aproximar-se a morte do Senhor.
E a tristeza era tão grande que até os sinos das igrejas deixavam de se fazer ouvir a partir do meio dia de Quinta-Feira Santa. O luto era total. E o recolhimento também.
Porém, as cerimónias religiosas chamavam ao templo toda a comunidade que, vestida com o seu melhor fato negro, acorria a participar nas celebrações. E como os sinos não podiam cometer o sacrilégio da sua voz timbrada e límpida, as cerimónias religiosas eram anunciadas aos fiéis através do som cavo e indesejado da matrácula, sinal de que Jesus ia morrer.
Lentamente, rua a rua, porta a porta, o tan-tan do chamamento chegava a todos.
Felizmente, Sábado da Aleluia (antes do Concílio Vaticano II) estava próximo, e pela manhã, o sino, na sua voz transparente e grito alegre, a todos deixava o anúncio: Já nasceu o nosso Deus, aleluia, aleluia, aleluia!