Nº de inventário: 4430; altura: 40cm
O povo português, dadas as suas naturais dificuldades económicas, aprendeu a valorizar o seu património, poupando-o e restaurando-o até mais não poder ser: remenda o teu pano, e ele dura-te um ano; torna a remendar e ele torna a durar. Este era o princípio aceite e seguido por todos; no respeitante ao pano, aos trajes, assim como ao resto. Nunca ninguém deitou fora o que quer que fosse, porque guarda o que não presta e terás o que te é preciso.
Hoje, queremos falar da louça usada pelos pobres e pelos remediados. Comprada na feira, poucas vezes na loja, tinha de durar uma vida; mas o uso diário, as mãos enfraquecidas dos velhos e as pouco treinadas, pequenas e frágeis da criançada, deixavam a sua marca: escorregou, caiu, ficou em cacos. Após o sermão consequente, onde não faltavam os pedidos de cuidados aos mais velhos e nem sempre faltavam uns tabefes aos mais novos, apanhava-se tudo com mil cuidados e aguardava-se até se ouvir a gaitinha do amolador que, em tempo de chuva, havia de aparecer para pôr tudo em pratos limpos: pratos que fossem, travessas de onde toda a família comia as batatas da ceia e, sobretudo, as malgas do caldo.
- Amolar tesouras e navalhas! Compor chapéus ou botar um pano novo! Loiça partida!
Aquela malga, feita em três, levou sete gatos, que é como quem diz, custou sete tostões para ficar como nova. Mas não lhe faltou nada: cola feita de farinha centeia, gatos de arame vindos dos ganchos maiores do cabelo das mulheres e catorze buraquinhos resultantes dos sucessivos e ritmados movimentos daquela maquineta curiosa que era o furador da louça construído pelo próprio amolador.
O exemplar que hoje divulgamos faz parte do núcleo de peças não muito vulgares que o museu possui.