Coisas das Terras do Demo
Custódia Gaudência punha a forjicar um pedaçorro de marrã, se havia defunto no chambaril. De contrário, imolava um reixedo e toca para a caçoila com bom azeite do Tedo, cebola, batata turca, grossa como cabeças de doutores. Ao cheiro dos petiscos acudiam os afilhados para a varredura dos créscimos, não faltavam os gulosos e os necessitados, esses às novenas, e, rilha que rilha, era como nos dias fartos de segada.
Às vezes vinha um nevão e ali quedavam os almocreves, bem agasalhados, comendo e bebendo à tripa forra, com torgo rijo na lareira e moças que era um regalo de ver e palpar. Os mais sisudos sacavam do baralho e turravam à bisca o serão inteiro; os chibantes armavam-se das castanholas e da pandeireta e batiam um fandango que até do mais fundinho do povo as raparigas vinham ver. Um arraiano — sucedia muitas vezes — puxava duma dança e cantiga à moda de Castela, e eram sacarotes que nem cachorro a sacudir-se de um banho na ribeira. As moças mais correntonas fraguavam com eles ...
Aquilino Ribeiro,
Terras do Demo, Circulo de Leitores, 1973, pág. 15