Capote e Lenço
“O capote e lenço eram outrora trajo muito corrente, tanto de senhoras, como de mulheres do povo, por todo o Portugal; hoje está em decadência, posto que já por vezes os eu observasse em Lisboa. Informam-me de que no Algarve as viúvas trazem a extremidade do lenço (preto) por baixo do cabeção, e que só as solteiras o trazem (branco) por cima. No século XIX publicaram-se várias coleções de estampas que representam trajes e tipos populares, das quais deu uma útil resenha o Sr. H. Ferreira Lima num opúsculo intitulado Costumes Portugueses, Lisboa 1917. Não raro aparecem à venda nos alfarrabistas estampas soltas; possuo muitas aí adquiridas, ou oferecidas por amigos, e entre elas as seguintes: mulher de capote e lenço, do litógrafo Macphail, que exercia a sua profissão por 1840 e tantos; mulher de capote e lenço em Lisboa, do litógrafo Palhares (1.ª coleção, n.º 43). Ambas as litografias estão coloridas; os capotes, de cor escura, são de cabeção e gola, e cobrem o corpo até os pés, vendo-se apenas em baixo uma tira do vestido azul, num, e uma leve nesga de vestido vermelho, noutro; um dos lenços forma ponta atrás, que fica no ar; o outro lenço vai cair para as costas; ambos são brancos, e atam-se debaixo da barba.“(sic)
José Leite de Vasconcelos,
Boletim de Etnografia, n.º 1, Lisboa, 1920