Cantar e dançar
“Ao domingo, quando voltavam da missa, ou à tarde, quando iam às cerejas, onde quer que houvesse um meguelho de chão mais ou menos plano, logo aí se improvisava um balho ao som da flauta ou, na falta dela, simplesmente cantando.
E, ao fim do dia, não havia domingo (exceto em caso de morte) em que não houvesse o tradicional balho na eira e em que pessoas de todas as idades vibravam de alegria. Só na quaresma se não dançava, mas jogavam-se jogos, diziam-se lengalengas, anedotas e adivinhas que eram agradáveis passatempos.
Toda a gente cantava: crianças guardando as cabras, homens e mulheres de todas as idades nas descamisadas ou descamisas, na apanha dos medronhos e da azeitona, em todos os trabalhos em geral, canções conhecidas e cantigas ao desafio que eles próprios compunham. Cantava-se nas romarias, em grupos, dando a volta ao arraial e pelos caminhos, de regresso das festas na vila, das feiras e dos mercados e, se o vinho palhete já lhes esquentava as ideias, tanto melhor...”
- Assunção Vilhena,
Gentes da Beira Baixa, Lisboa, 1995