AS LUVAS
As luvas são um dos acessórios mais antigos do vestuário do Homem.
Não se sabe ao certo qual a data exata em que surgiram os primeiros exemplares. Contudo, podemos dizer que elas já existiam no antigo Egipto, uma vez que, com a descoberta do túmulo de Tutancámon (faraó egípcio da XVIII Dinastia, cujo túmulo foi descoberto em 1922), entre as muitas riquezas encontradas, estava um par de luvas de criança em linho fino.
Sabe-se, também, que os soldados da Assíria (antigo país situado a Norte das terras baixas da Babilónia) tinham entre o seu equipamento militar as luvas.
Os soldados de Ciro, o Grande, rei da Pérsia (550 a 528 A.C.) também não dispensavam o seu par de luvas quando iam para a guerra. De caraterísticas especiais, estas só cobriam as pontas dos dedos permitindo aos arqueiros uma maior destreza no uso das armas.
No período Viking (anterior ao Séc. X) as luvas eram feitas de pele de veado e tinham como caraterística deixar as pontas dos dedos a descoberto.
Na falcoaria, arte milenar (há registos da sua prática pelos chineses e demais países do Extremo Oriente que remontam a 2000 A.C.), popularizada na Idade Média pelas classes nobres, as luvas eram igualmente utilizadas, como meio de proteção das afiadas garras dos falcões.
No contexto da religiosidade, e estamos a falar de todas as religiões, as luvas também marcaram presença. De confeção riquíssima, cravejadas de pedras preciosas e ornamentadas a ouro, juntamente com o anel, eram um símbolo da dignidade e superioridade da classe episcopal.
Na época medieval, eram usadas pelos nobres cavaleiros como marca da sua condição social, sendo um acessório basicamente masculino. Esta característica permaneceu até ao século XV. Com exceção das damas venezianas, só os homens usavam luvas. Esta tendência viria, contudo, a alterar-se já no Séc. XVI, por iniciativa das rainhas de França e de Inglaterra, Catarina de Médicis e Isabel I, respetivamente. As luvas passam, então, a ser parte integrante do traje feminino. É neste período que surgem, também, como fruto de uma moda cada vez mais emergente no meio feminino, as chamadas mitenes, luvas compridas que deixam destapadas as pontas dos dedos.
No Séc. XVII houve dois grandes centros de confeção de luvas na Europa — França e Itália. As luvas transformavam-se, assim, num símbolo de elegância e distinção, atingindo um lugar de destaque no vestuário de então. Este é, certamente, o período aureo das luvas.
No Séc. XVIII, um excêntrico inglês, George Brummel, tem tal afeição por este acessório do traje que funda, em Inglaterra, o "Clube das Luvas", espécie de escola de boas maneiras que, entre outras coisas, tem como objetivo ensinar aos elegantes a arte de usar as luvas.
Foi já no Séc. XX, por volta de 1914, que o fenómeno das luvas se universalizou e popularizou. Para isto muito contribuiu a introdução de fibras artificiais e do algodão na sua confeção, até então, elas eram confecionadas somente com materiais muito caros e, por isso, pouco acessíveis ao todo social. Elas passam, então, a estar ao alcance de quase todas as bolsas, deixando, a pouco e pouco, de ser uma marca de classe e estatuto social.
Maria Odete Madeira
Passos de Silgueiros, 25 e 26 de Janeiro de 2007