“Gualdim Pais pelos anos de 1181 construíra ao nascente do monte um pequeno castelo (Pombal). Existia ali uma nobre matrona chamada D. Maria Fogaça.
Por aqueles tempos uma nuvem de gafanhotos, recordando a praga de Moisés, cobriu os campos e casas e os moradores dali começaram a rarear. Fizeram-se portanto preces e houve um sermão, no qual, pela boca do reverendo pregador, aqueles aflitos povos prometiam grandes louvores à Senhora do Cardal, se os livrasse de tão daninhos hóspedes. Isto sucedeu num sábado, último de junho de 1181. No domingo os gafanhotos tinham desaparecido.
No ano seguinte, D. Maria Fogaça, com outros moradores dali, ordenou a festa à Senhora na sua capela, e foi cousa esplêndida. Ordenou também que se cozessem, para oferta do pároco, dois enormes bolos, introduzindo-se assim o nome fogaça, do nome de tão venerável festeira; mas pela sua enormidade, ficaram mal acomodados no forno. Um doméstico, penetrado de júbilo e cheio de crença, não duvidou entrar no forno e acomodar os bolos, saindo de lá são como um pêro. Isto foi logo declarado como um sucesso sobrenatural. No ano seguinte repetiu-se a mesma cousa. Os bolos de dois passaram a ser um só e a festa alcançou tais prerrogativas e privilégios que até no reinado de D. Sebastião era permitido por uma provisão régia que oito dias antes e oito dias depois, ninguém pudesse ser preso, por qualquer crime que fosse, uma vez que provasse vir das festas. Ainda hoje ali se coze o enorme bolo que é repartido pelo povo.”
Tito de Noronha,
Archivo Pittoresco, Volume II, 1858/1859, pág. 16